Mesmo ainda deixando muitos brasileiros de nariz torcido, o funk carioca chegou aos ouvidos de Paul McCartney (70) e conquistou o ex-Beatle, que pediu ao produtor Mark Ronson (37) uma forma de capturar a mesma energia do ritmo para o seu próximo disco. Entre as referências citadas por Ronson, em recente entrevista, estava a banda brasileira Bonde do Rolê, criada por Rodrigo Gorky (29) e Pedro D'Eyrot (28), que desde 2006 se destaca no mercado internacional e alternativo.
“Foi bizarro”, disse Pedro, em entrevista à CARAS Online, comentando o momento em que descobriu que sua música estava influenciando Sir McCartney. “É uma coisa que a gente não espera. Até brinquei que me sentia uma nova Linda McCartney, porque ele é um ícone da cultura pop mundial. Está tudo muito surreal, ainda mais por que nossa banda tem gente que ama muito e gente que odeia muito”, contou.
Quem gostou da notícia foram os pais de Pedro, que moram em Curitiba, enquanto o rapaz fica em São Paulo.“Meu pai está impossível. Ligaram no mesmo dia que saiu a entrevista, fizeram uma megafesta. Acho que quando eu chegar em casa vai ter um altar com a minha foto e a do Paul, escrito ‘Melhores amigos para sempre’”, brincou.
Essa não é a primeira vez que o Bonde do Rolê chama a atenção dos gringos. Em março de 2006, pouco depois de se lançarem no mercado, a banda foi listada entre os dez artistas que o público deveria ficar de olho pela Rolling Stone americana. E o primeiro disco deles foi lançado pelo selo Mad Decent, do DJ americano Diplo.
- Como nasceu o Bonde do Rolê?
O Rodrigo cresceu no Rio de Janeiro e era muito fã dos 2 Many DJs, que misturavam duas músicas diferentes para criar uma terceira música. Ele começou a fazer isso com o funk, então misturava uma música com o funk e criava outra. Ele foi fazendo isso nas baladas de Curitiba e muita gente não gostava. Um dia o DJ americano Diplo discotecou no Brasil e misturou o funk, no dia seguinte todo mundo saiu falando que o cara era gênio. Mas o Rodrigo já fazia isso há dois anos e brigavam com ele, falando que balada alternativa não era lugar para funk. Depois disso ele decidiu criar o Bonde do Rolê e me chamou para fazer parte.
- E o que vocês costumavam ouvir até então?
Eu ouvia bastante hardcore quando era criança, curtia Bad Religion, muita música eletrônica e música pop. O Rodrigo gosta muito de música brasileira, ele tem três mil vinis de música brasileira. E a Lara [Taylor, 28, vocalista] gosta de reggae e rockabilly.
- O que mudou no Bonde do Rolê desde 2006, quando vocês eram aposta da Rolling Stone, até os dias de hoje?
Mudou tudo. É uma vida. São quase oito anos de banda. Mas a mudança que a gente mais gosta é que as pessoas da cena alternativa passaram a curtir, a dançar e se divertir. Em 2006 elas ficavam revoltadas, jogavam cerveja...
- Mas até hoje existem pessoas que criticam muito o funk. Semana passada, a âncora do Jornal do SBT, Rachel Scherazade, chegou a classificar o ritmo como ‘lixo’ da cultura brasileira. Qual sua opinião sobre isto?
Minha opinião é a seguinte: o lixo une as pessoas, a cultura segrega. Todo mundo produz lixo. Melhor dizendo, todo mundo produz a cultura trash e a cultura trash tem esse poder de unir. Tudo que é simples cria uma união, o que é muito erudito é para uma minoria. É claro que o funk é uma cultura trash que valoriza o baixo calão, o absurdo, o humor cru... Mas o básico da humanidade é esse. A baixaria é comum de todos. Quando sai briga na rua, todo mundo fica olhando. Se sai porrada na rua do Chico Buarque, ele vai ser o primeiro a abrir a janela e ver o que está acontecendo. Assim como todo mundo olha a Valesca [Popozuda] no Carnaval, nem que seja para falar mal. Os valores do funk são crus, mas traz a união.
- Vocês já gravaram com o Caetano Veloso (na música Baby Don't Deny It, uma versão em inglês de Baby Doll de Nylon). Como aconteceu essa parceria?
Foi uma história muita louca. O Caetano nunca tinha cantado essa música. Ele escreveu Baby Doll de Nylon para o Robertinho do Recife, mas nunca tinha cantado. A gente foi lá e fez uma versão em inglês. Tentamos de tudo quanto é jeito chegar nele, demorou seis meses todo esse processo. Estávamos com disco pronto, aí o Diplo veio para o Brasil de novo e contamos que queríamos o Caetano. Ele ligou para o Hermano Vianna e marcamos um jantar com o Caetano. Ele ouviu a música e adorou que a gente fez uma versão em inglês. No início do funk, as músicas faziam uma tradução fonética do inglês para o português, e a gente fez o mesmo processo só que do português para o inglês.
- A Banda Uó, produzida por vocês, é outra que trouxe um ritmo que sofre preconceito, o tecnobrega. Mas também conseguiu fazer sucesso no meio alternativo. Vocês deram alguma dica para eles?
Não desse jeito. A gente trabalha com eles e desenvolveu uma carreira. Mas não existe uma dica, uma fórmula. Isso tem que vir naturalmente. É aquela coisa da aceitação. Mas é muito diferente o tanto de ódio que eles recebem e o que nós recebíamos quando começamos. Hoje é muito menos. No começo, tinha gente que atacava falando que fazíamos funk de playboy, que era uma porcaria...
- Existiu esse preconceito até com os artistas do funk carioca?
Muito pelo contrário. A galera do funk mesmo não tem preconceito. Já fizemos coisas com vários artistas.
- Para encerrar, qual conselho você daria para Paul McCartney conseguir essa energia do funk carioca no seu próximo disco?
Acho que ele tinha que vir para o Brasil, fazer turnê só nas periferias do Rio de Janeiro, cobrando um 1 kg de alimento não perecível, e colocar a Gaiola dos Popuzudas, a Gang das Bonecas e toda galera do funk no palco.
Assista ao clipe de Brazilian Boys, do Bonde do Rolê: