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Contar histórias para o bebê cria laços afetivos. Saiba como e quando começar

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A escritora Vanessa Meriqui, autora de quatro livros infantis, fala sobre sua experiência como contadora de histórias e dá dicas para os pais apresentarem a literatura para seus filhos desde a gravidez. Confira:

Quais os benefícios de ler para a criança desde cedo?
Ler em voz alta, suavemente, propicia o vínculo amoroso e a memória afetiva. O contar histórias tem como matéria-prima o afeto. E quando uma criança é tratada com amor, isso a prepara para o futuro, pois uma pessoa amada tem condições de sentir-se segura e enfrentar situações difíceis, de encarar o futuro com mais coragem..
Além disso, ouvir histórias desde cedo possibilita que a criança tenha contato com um vocabulário maior, o que é bom para sua formação. E, claro, o ato de contar histórias estimula futuros leitores desde a tenra idade, o que é fantástico para a educação de nossas crianças.

Existe uma idade ideal para começar?
Costumo dizer que histórias são indicadas para pessoas de 0 a 110 anos! Na verdade, uma das coisas mais ternas que uma mãe pode fazer é contar histórias para o bebê ainda na fase de gestação. Engana-se quem acha que o feto não ouve. Ele ouvirá e reconhecerá sempre aquele tom de voz, aquele carinho, aquela entrega.

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Então a contação é indicada para bebês?
Sim, são superindicadas, principalmente se a mãe contou histórias quando ele ainda estava no seu ventre. Pesquisas revelam que o bebê reconhece a voz da mãe desde o útero, então ele terá memória afetiva daquele momento. E será um momento muito prazeroso, de encontro, de calma. Mas se a mãe não contou histórias para seu filho enquanto estava grávida, sempre é hora de começar.

Que tipos de histórias devem ser contadas?
Para um bebê pequeno, o que surte efeito é o tom de voz, então o enredo não é o mais importante. É claro que bom senso é fundamental. Histórias de suspense, por exemplo, não são recomendadas. Não faz sentido provocar sons que causem sobressaltos no bebê. Então histórias curtas, meigas, até com pequenas músicas, são recomendadas. Mas se você não tiver um livro em mãos, vale até o contar um caso, uma cena, ou acontecimentos do seu dia, sempre com palavras suaves, como se estivesse contando um conto de fadas. O que importa é o carinho com que se conta.

É preciso determinar um horário para a atividade?
Associar a hora da história à hora do sono, principalmente para o bebê, é excelente, pois o acalma e o ajuda a dormir. Mas o importante é que a criança saiba que a hora da história é um momento só dela. Então, se tiver que criar uma rotina para isso, crie. Muitas vezes, em alguma situação em que a criança esteja nervosa ou chorando, uma história pode ser um bálsamo. E aí não é preciso esperar a hora – você faz a hora acontecer.

É melhor dramatizar ou ler normalmente?
Ler normalmente já é interessante. Até pode-se dramatizar, dar vozes aos personagens, mas sempre com o cuidado de não provocar sobressaltos. Não grite no ouvido da criança para fazer o lobo mau, por exemplo. Com bebês, não são recomendados movimentos bruscos e vozes assustadoras, nada que cause susto. A história deve ser contada suavemente.

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Vale inventar uma história colocando a própria criança como personagem?
Para os bebês, não funciona muito. Mas por volta dos três anos, o recurso é válido. Nessa idade, a criança já se compreende como uma pessoa, um ser independente e gosta de se sentir inserida.

As crianças costumam interagir e mudar o rumo das histórias que você conta?
Sim, o tempo todo! Elas interferem na história e costumo acolher essas intervenções, mesmo que sejam totalmente descontextualizadas. Nesse momento, a criança expressa aquilo que mais a incomoda ou que lhe é importante. Há casos onde as crianças revelam seus medos e dúvidas na hora da história. Então, nada de gritar “me deixa terminar de contar!”. É preciso entender que muitas vezes não é a história que importa naquele momento, e sim a oportunidade da troca, do afeto.

E se a criança começar a chorar?
É preciso respeitar. Nem sempre é porque ela não gostou da contadora ou da história. É porque aquele momento surtiu alguma reação. Fale com a criança com calma, e se tiver que interromper a história, interrompa.

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O jeito de contar histórias muda conforme a faixa etária?
Sim. Para crianças maiores, recomendo histórias que mexam com a criatividade, com o lúdico e com a interatividade. Use livros com ilustrações atraentes, grandes e coloridas, que estimulem a percepção visual. Para os bebês, recomendo utilizar narrativas curtas, rechear com canções como acalantos, inserir adereços e utilizar coisas simples, como tecidos coloridos ou objetos - como bolas. Há livros de tecidos, de plásticos ou cartonados, de fácil manuseio para os pequenos.

Qual história você escolheria para introduzir a criança no mundo da ficção?
Não dá para generalizar, mas acho que toda criança deve ler e ter ouvir histórias, mitos e lendas, contos de fadas e folclore. Digo isso com muita ênfase. É preciso ler. Recomendo Andersen, Grimm, Monteiro Lobato e autores brasileiros contemporâneos. Toda criança deve ser estimulada a conhecer a biblioteca da sua escola, do seu bairro e visitar livrarias. Ler e ter a literatura em sua vida é crescer para o mundo, toda criança tem o direito de ter essa oportunidade desde bebezinho.

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Na sua opinião, por que as histórias têm esse poder de encantar crianças e adultos?
Desde sempre e de diferentes formas, o ser humano ouviu e contou histórias. Vivemos tempos, no entanto, em que é preciso restaurar a generosidade do ouvir e ser ouvido, do acolher e do oferecer o bálsamo das histórias. Afinal, conhecer personagens que falem à nossa alma, que nos curem, ou que enfrentem desafios para, ao final, serem felizes para sempre, é buscar a construção de um mundo mais leve. A arte de contar histórias é uma viagem que nos transforma, que nos coloca como contadores e ouvintes, como narradores e protagonistas. Esse é o objetivo do meu trabalho.


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