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Especial Amamentação: mãe de primeira viagem fala de suas descobertas

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Quando engravidei, tinha poucas convicções sobre a maternidade, pelo menos sobre o aspecto prático da coisa. A única gravidez que acompanhei antes da minha foi a do meu irmão mais novo. E eu tinha sete anos. Não dá para lembrar de muita coisa, né? Nesse deserto de experiências pessoais caí na internet atrás de informações. No capítulo amamentação, a experiência familiar batia de frente com os especialistas e recomendações atuais. Enquanto minha mãe amamentou os três filhos por apenas um mês, e desde cedo usava complementos como farinhas para engrossar nossas mamadeiras, hoje todos batem na tecla da amamentação exclusiva até os seis meses.

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Depois de ler, ler e ler mais um pouco, estava completamente convencida a amamentar exclusivamente até os seis meses. E a amamentação prolongada até os dois anos me parecia inatingível. Do alto da minha falta de conhecimento, achava que essa recomendação era dada a pessoas com dificuldade em proporcionar uma alimentação com calorias suficientes para seus filhos. Achava impossível uma criança continuar mamando por tanto tempo simplesmente porque não conhecia nenhum exemplo disso.

Dessa forma, durante a gravidez e nos primeiros meses de vida do Arthur, meu pensamento era tentar manter a amamentação até um ano de idade e então ver o que acontecia. O começo foi bastante dolorido. Não houve rachaduras, empedramento, mastite, pega errada, mas a dor estava lá pela simples força com que o meu filho mamava. Não cheguei a pensar em desistir, mas os primeiros 15 dias não foram fáceis. Andava completamente pelada da cintura para cima pela casa por causa da dor, tentando acelerar a cicatrização. Quando o bico sangrou e eu chorei de dor, recebi ajuda de uma amiga que me deu dicas preciosas para passar por essa fase.

Depois disso, o resto foi ‘fichinha’. Quer dizer, a amamentação em si, porque a frequência das mamadas era enlouquecedora. Arthur mamou a cada duas horas até os quatro meses. De noite inclusive. Às vezes, não conseguia nem escovar os dentes. Olhando para trás, não sei de onde tirei essa disposição para manter o meu propósito. Mas nem tudo são pedras! As vantagens existem também para a mãe, né? Amamentar é de graça, emagrece e faz os bebês dormirem. A maior dádiva para uma mãe!

Aos cinco meses, ao ver meu estado – estava magérrima de tanta amamentação e pouca comida – a pediatra sugeriu que eu desse uma mamadeira de leite artificial em algum momento da noite para que eu pudesse descansar um pouco. Estava tão esgotada que aceitei. O padrão de sono dele só começou a mudar no mês seguinte (e até hoje ele acorda de madrugada para mamar). Sei que corri um belo risco de ele se desinteressar pelo peito. Amigas minhas passaram por isso depois de introduzir a mamadeira. Mas a voracidade de meu filho em relação ao peito não diminuiu. Claro que, com o tempo, por conta da mamadeira e depois da entrada na creche, meu leite foi diminuindo e o número de refeições com leite artificial aumentou. Não queria que isso tivesse acontecido, mas ao mesmo tempo foi um processo gradual que não trouxe sofrimento para nenhuma das partes.

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O tempo foi passando e o aniversário de um ano se aproximava. Vendo o comportamento do meu filho, percebi que o desmame estava longe de ser uma realidade. Posso dizer que nunca tomei a decisão de não parar de amamentar, mas que existiu um processo de entendimento do que se trata a amamentação. Antes eu achava que uma criança de um ano era isso, uma criança. Ao criar meu filho, percebi que ainda são bebês. Não falam, mal andam. São muito ligados aos seus cuidadores, ainda completamente dependentes.

Descobri, principalmente, que a amamentação não é apenas alimentação. E amamentação prolongada muito menos! Hoje, aos 18 meses, meu filho já come uma grande variedade de alimentos e não precisa mais das calorias do leite materno. Mas precisa, sim, da imunidade contida nele e, mais do que tudo, do afeto que essa relação contém. Não julgo de maneira nenhuma mães que escolheram desmamar mais cedo. Mas não tive essa urgência e meu filho demonstra que ainda precisa disso. Outras crianças se desinteressam do peito muito antes, ele não. Simplesmente acontece.

E tem outra coisa. Amamentação exige desprendimento. Esqueça suas necessidades, inclusive as mais básicas. Não sei dizer quantas vezes tive que escolher entre fazer uma refeição ou dormir. Exige também despudor, se a mãe não quiser ficar trancada em casa por meses. Hoje menos, pois raramente amamento em público (porque ele não pede), mas durante a parte intensiva da coisa meu peito virou domínio público. Nunca liguei e, por sorte, nunca recebi, ou pelo menos não percebi, nenhum olhar torto.

Outra questão importante é o trabalho. Nem posso imaginar minha vida com um emprego tradicional e um bebê para cuidar. Certamente toda a minha experiência como mãe seria diferente. Mas trabalho em casa e não precisei me preocupar com a volta ao escritório. Privilégio. E se o país quiser de fato aumentar os índices de aleitamento materno, precisa discutir a sério a licença-maternidade de quatro meses.

Apesar de saber que existem questões subconscientes que desconheço, não sinto que sou eu quem não quer parar de amamentar. Sinto, sim, muita vontade que alguém, que não seja eu, coloque o Arthur para dormir e possa ficar com ele durante a noite para que eu possa sair de casa, jantar fora, ver o mundo depois do por do sol. Não tenho planos para o desmame. Quer dizer, tenho. Sonho com o dia em que meu filho simplesmente não queira mais o peito. Sonho que esse processo seja tranquilo e natural, mais um degrau em seu desenvolvimento. Mas talvez eu tenha um limite, embora ainda não saiba qual é. Enquanto isso, vou aproveitando todo o amor que a amamentação traz para nós. Amor de filho nunca é demais.


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