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Papel do novo pai exige participação integral na gravidez e criação dos filhos

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Ninguém contou para eles o que era exatamente ter um filho. Não falaram que o novo morador da casa seria o centro das atenções. Nem das noites perdidas por causa da febre. Muito menos de como fazer aviãozinho para comer seria tão repetitivo. Mesmo assim, eles assumiram a missão provando que existem, sim, pais com p maiúsculo. “Daqui a pouco o ‘pai provedor’ vai estar extinto, não vamos mais ver esse pai distante dos filhos”, acredita o cantor e apresentadorRonnie Von, um precursor desse novo modelo de pai que se tornaria tendência décadas depois.

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A vida de um artista, cheia de shows e viagens, pode parecer incompatível com a figura de um pai participativo, mas Ronnie era tão presente que, quando se separou de Aretusa, em 1977, os dois concordaram que ele deveria ter a guarda dos filhos. “Fiquei com as crianças porque tinha um dom maior para a pedagogia, mas o medo de errar era enorme. A verdade é que, com amor, os erros vão diminuindo”, diz o cantor que aprendeu a cozinhar, a passar, a cuidar da casa e até a desembaraçar os cabelos da filha. Quando começou a morar sozinho com Alessandra e Ronaldo, eles tinham apenas sete e seis anos. Assim, Ronnie se tornou uma "mãe de gravata", como intitulou a si mesmo e ao livro autobiográfico que escreveu em 1994.

A ‘nova paternidade’ também foi tema de dois livros do escritor Renato Kaufman: Diário de um Grávido e Como Nascem os Pais. Atualmente separado, Kaufman tem a guarda da filha Lucia compartilhada igualmente com a ex-mulher. Quando a gravidez foi anunciada, Renato foi pego de surpresa. Como forma de encarar o desafio, ele inaugurou um blog, onde narrava todos os momentos da paternidade que estava apenas começando. Conforme ia ganhando leitores, também ficava mais grávido e apaixonado pela ideia de ser pai. Ia aos ultrassons, escrevia sobre cada experiência e até reduziu o consumo de álcool. “Participar ajuda o homem a se integrar ao processo. É muito especial ver aquele coraçãozinho batendo”, relata o escritor.

O cientista político Daniel Cara se integrou tanto ao processo que, diante das suspeitas de gravidez, foi junto com a esposa à farmácia para comprar o teste e fazer o exame de sangue. “Na época em que descobrimos que seríamos pais, eu estava sempre viajando para Brasília, mas quando ela me dizia que teria consulta do pré-natal, eu dava um jeito de vir para São Paulo”, diz. Nem os médicos estavam preparados para um pai tão participativo. “Minha mulher teve diabetes gestacional. Fiquei preocupado. Pesquisava na internet e, nas consultas, enchia o médico de perguntas”, conta. Acompanhar de perto a gestação também foi a escolha do jornalista Ricardo Brandt. Ele e a mulher moravam em Araras, no interior paulista, mas ele trabalhava em São Paulo de segunda a sexta. No quinto mês da gravidez das gêmeas, Ricardo pediu demissão e passou a ficar em casa. “Fiz cursos com minha mulher e sempre conversei com conhecidos que tinham filhos”, relembra. Para a psicóloga Marisa Abreu, uma coisa é fato: quanto mais o pai estiver presente em tudo que se refere a seu filho, mais conexão terá com ele. “O pai não deve considerar coisa alguma como atividade exclusiva da mãe, mesmo durante a gravidez”, afirma a psicóloga.

Diferentemente do que se pensa, nem mesmo a mãe tem um vínculo ‘natural’ com o filho. Essa ligação com a criança é estabelecida através do relacionamento. “Tanto mãe quanto pai constroem o vínculo com a criança no cotidiano das relações, pois a família é uma instituição social”, explica a psicanalista Belinda Mandelbaum, coordenadora do Laboratório de Estudos da Família, Relações de Gênero e Sexualidade do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). “A criança está sempre disponível a vínculos, depende apenas da abertura de quem as cria. Por isso, atenda às necessida-des dela: alimente, dê banho, brinque, ensine”, sugere Belinda.

Para estar presente e criar vínculos fortes,Daniel Cara e a esposa optaram pela divisão de tarefas. Após os dias da licença-paternidade, quando chegava do trabalho, era o cientista político que cuidava de Francisco. Ele era o responsável pela troca das fraldas, banhos e limpeza bucal. “Ficava com ele do começo da noite até a madrugada, quando adormecia. Assim, a mãe também podia descansar e ter um tempo só para ela”, conta. Brandt, por sua vez, tomou uma decisão mais radical. Terminada a licença-maternidade, foi ele que permaneceu em casa com as gêmeas Beatriz e Helena. “Com a rotina que tinha, eu ia perder as primeiras conquistas das meninas”, explica o jornalista, que atualmente trabalha em Campinas – mais perto de casa – e com horários flexíveis.

Ainda há quem acredite que os homens não têm jeito para isso, mas a verdade é que o novo pai ganha cada vez mais espaço e mostra sua importância. “O pai é uma figura de identificação, de referência. Ele dá segurança ao desenvolvimento psicológico da criança”, explica a psicanalista Belinda. Talvez por isso, no auge de seus 4 anos, Francisco, filho de Daniel Cara, já tenha escolhido o que quer ser quando crescer. “Eu quero ser pai”, conta. “Ser pai amolece o coração”, diz Renato Kaufman. Mais do que isso: hoje o pai pode escolher ser protagonista em todos os aspectos da vida dos filhos e não um simples coadjuvante.

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Uma conexão especial

Quatro dicas para ser um pai mais participativo

1- Crie vínculo desde a gestação. Vá aos ultrassons, converse com a ‘barriga’ e ajude a escolher as roupinhas e a decoração do quarto

A importância de ser presente

2 - Divida as tarefas da casa e dos cuidados com o bebê. Por exemplo, se ele ainda mama no peito, pegue-o e faça-o arrotar

A importância de ser presente

3 - Leia, pesquise e converse com amigos e familiares sobre os assuntos ligados ao seu bebê

A importância de ser presente

4 - Encontre um espaço na sua rotina. Conte histórias e faça ao menos uma refeição junto com o seu filho

A importância de ser presente


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