Rafinha Bastosé o humorista que mais trabalha no Brasil: apresenta programas na TV aberta, a cabo, na internet, está presente nos palcos de todo o Brasil com o espetáculo Péssima Influência e no cinema em Mato Sem Cachorro -- além de ter gravado recentemente participação no filme Copa de Elite, ao lado da cantora Anitta.
Nesta entrevista exclusiva para a Caras Online, Rafinha revelou o desejo de ser comentarista de basquete na TV e levar o canal de entrevistas 8 Minutos, sucesso no YouTube, para a TV a cabo. Também disse que não deve voltar ao CQC em 2014.
Você pensa em levar o canal ‘8 Minutos’ para a televisão? Considera aumentar o tempo das entrevistas?
Penso, penso sim. Há o projeto de levar para a TV a cabo, com essa abertura para a produção nacional. Praticamente todos os programas que gravei com o 8 Minutos têm mais de 30 minutos de duração e podem ser usados em qualquer momento, pois são atemporais. Poderia ter mais tempo sim. Seria um programa de entrevistas, diferente do talk show. Gosto muito de fazer, porque dá uma resposta muito legal na Internet. O 8 Minutos tem muita credibilidade. A galera fala um monte de coisa legal ali.
De onde surgiu a ideia de criar um canal de entrevistas na internet?
A ideia veio do meu amigo Fernando Muylaert, que falou de fazer um programa que tivesse a duração de oito minutos. Disse que era impossível, mas começamos a fazer. Às vezes as pessoas me cobram: "Por que você não perguntou aquilo?”. E eu falo: “Porque não tenho a menor curiosidade sobre esse assunto”. Poderia ter perguntado para o Tom Cavalcante se ele não ficou chateado de não ter voltado a fazer o Sai de Baixo, ou sobre alguma briga na Globo. Chego lá e pergunto o que eu quero. Se não é uma curiosidade minha, não pergunto. É legal porque fica bem autêntico. Não vou lá para tirar satisfação com o cara.
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Mas se levasse o formato para a TV, não precisaria fazer essas perguntas de interesse maior do público?
Talvez, mas não acho que fosse vender fazendo isso. Talvez sim. A questão é que tem gente agora vendo a entrevista com o Tom Cavalcante. Se perguntasse algo do tipo: “Você não tem vontade de voltar para o Brasil?”, imagina se esse cara assiste daqui dois anos o vídeo e o vê com um programa na Band. Na Internet, tudo fica registrado. E certas coisas não podem ser factuais. Na internet vou na vida do cara, na infância, família, para tentar entendê-lo. Na imprensa é diferente, porque as pessoas consomem sua notícia.
Qual entrevista do 8 Minutos mais o surpreendeu?
Gostei de ter encontrado certas pessoas que admirava e que nunca tive a oportunidade de conversar. E ali tive uma conversa de fã quase. O Oscar Schmidt, o Ary Toledo, Carlos Alberto de Nóbrega, Moacyr Franco. E tem pessoas conhecidas que me surpreendi na conversa, como o Thaíde. Conheci coisas dele ali que pessoalmente nunca tinha perguntado.
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Você prepara um roteiro antes de se encontrar com o convidado?
Nunca fui com roteiro pronto. Se roteirizasse, sinto que perderia muita coisa, por isso que as conversas são mais longas, com mais de 30 minutos.
Pensa em levar também o recém lançado canal Marcapasso para a TV?
O Marcapasso ainda não pensamos em levar para a TV. Tem muito canal americano que começou desta forma e hoje tem programa na televisão mesmo. Por enquanto queremos consolidar o canal, aumentar o número de visitas, aprender um pouco mais ali. A gente ainda está conhecendo o que estamos fazendo. Precisamos saber como vamos contar certas histórias. É um projeto que tenho muito orgulho de fazer. Só queria que tivesse bombando muito! Quando pegar, vai voar esse canal.
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Você não pensa em ser comentarista esportivo?
Adoraria ser comentarista de UFC e de jogos de basquete do Space ou da ESPN. O UFC não tenho tanto conhecimento de luta, mas fiz faculdade de jornalismo porque meu sonho era ser comentarista de jogo de basquete. Fui para os EUA jogar basquete, ganhei uma bolsa porque jogava. Meu sonho sempre foi esse. Depois descobri o humor e passei a fazer comédia. Quando vejo um jogo de basquete, queria estar ali. Esses dias fiquei louco com a transmissão do Space. Queria estar ali!
Já está confirmada a segunda temporada da série A Vida de Rafinha Bastos no FX?
Não sei ainda se terá a segunda temporada. Trabalhei que nem um cachorro. Foi a vez que mais trabalhei na minha vida. Acabei dirigindo ela, eu escrevia, eu atuava, eu dirigia, eu editei. Ninguém mandava eu aprovar nada. Sentava do lado do editor e editávamos juntos. Foram oito episódios, além do piloto. A FX só me falou que eles ficaram muito felizes com o resultado. Não sei qual é o sistema, o que vai acontecer. Eles disseram que pretendem fazer mais coisas junto. Não sei se é a série ou outra coisa. Vamos ver. Fazer ficção é muito custoso. O custo de uma ficção é muito maior do que um programa de televisão. Cada cena é uma produção, com negócio de objeto, figurino, ator. É muito legal e algo que quero fazer mais. Mas realmente não sei o que será da série.
Após gravar o filme Mato Sem Cachorro, de Pedro Amorim, pretende investir mais na carreira no cinema?
Tenho outros projetos de cinema para 2014. Quero atuar cada vez mais. Quero que as pessoas não me vejam somente como o Rafinha Bastos, mas como outra coisa. A minha série, apesar de ser atuação, era eu com minhas histórias, a minha família, minha mulher. Quero fazer mais coisas na ficção. Existe um espaço muito legal para a comédia e eu acho que tem mercado.
As pessoas esperam que você seja engraçado o tempo todo?
Não. Acabou isso. Acho que o programa A Liga me ajudou nisso. As pessoas que me encontram na rua, cada pessoa fala uma coisa completamente diferente. "Gosto muito da Liga", "Adorava o CQC", "Gosto da página do Rafinha", "O Marcapasso está ótimo", "A Vida do Rafinha não vai voltar?". É muito louco mesmo. Ninguém faz tanta coisa quanto eu, de verdade. Isso é bom porque me ativa pra caramba. E o público entende. A imprensa às vezes não entende: "Esse cara deve ter alguma esquizofrenia". Faz piada na segunda e na terça fala sério sobre o mesmo assunto? O público entende, sabe que pode fazer muitas coisas ao mesmo tempo.
O que te deixa de mau humor?
Acordar cedo me deixa de mau humor. Não sou um cara legal quando acordo cedo. É difícil. Quando as pessoas vêm falar comigo, não presto muita atenção. A não ser quando tenho que gravar alguma coisa que me deixe ficar acordado, tipo no A Liga. Ali você grava 24h por dia. Tem que estar ligado. Aí resolve.
Você ainda tem interesse pelo stand up comedy?
Gosto de fazer, viajo fazendo. A viagem é que não me atrai. Muitas vezes vou sozinho, fazendo bate e volta. Às vezes nem levo troca de roupa, só carteira e celular. Chego no aeroporto, vou para o lugar do show e volto. Acho que sou o único que faz isso. Minha mulher sai com as amigas e quando volta já estou em casa!
O que você acha dos novos comediantes do gênero?
Vivemos durante muito tempo no Brasil fazendo o mesmo tipo de comédia, que era o de personagens e a imitação, os contadores de piada. Assim, parece que tem muita gente, mas as pessoas perceberam que dá pra fazer diferentes tipos de comédia, que ainda tem avenidas gigantes para serem exploradas. Você hoje liga a TV e vê um monte de amigo. Acho ótimo. Agora, uma coisa é o novo stand-up, que pode ter banalizado um pouco, porque está em todo lugar. É o momento mesmo. Mas quem faz o texto com qualidade, o público reconhece, confia e vai atrás.
Impressão minha ou você não costuma de apresentar com frequência no Comedians [Rafinha é sócio de Danilo Gentili e Italo Gusso na casa de humor em São Paulo]?
Quando vou no Comedians, não coloco na programação. Chego de surpresa. É difiícil, atualmente, me comprometer com datas. Vou de 'louca' mesmo. Temos shows de terça a domingo, só fecha de segunda. Se bobear, já recuperamos o investimento. Mas é muito custoso, é cara pra caramba. A margem de lucro é muito pequena. Queremos realmente dar o melhor ali. É caro, mas está indo muito bem. Queria abrir em outros lugares, como em Campinas. É o lugar que mais queria fazer. Mas agora que estamos pagando o investimento e estamos pensando.
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Se depender de você, continua na apresentação do programa A Liga, na Band, em 2014?
Não está resolvido ainda. O programa é um projeto que tenho orgulho de ter feito, foi bom para mim retomar todo o contato com a emissora. Tenho um relacionamento bom com a equipe, com posições parecidas. Foi bom voltar a fazer. Neste momento estou esperando a bola rolar, não me defini ainda. As gravações já acabaram. Cumpri os oito programas previstos no contrato de participação. Nunca foi contrato de volta com a emissora. A equipe de produção é muito competente, sabe trabalhar. É legal estar com eles.
Você tem vontade de voltar a fazer o CQC?
Não consigo me ver no CQC atualmente, com a atual composição. Nunca passou pela minha cabeça voltar a fazer o que exatamente eu fazia. Já no A Ligaé um negócio que saí e percebi que foi algo que ficou mal-resolvido e tinha que resolver. Não é um plano meu voltar para o CQC. Há a exposição ligada a marca. Você fica taxado pelo que está fazendo, o que é normal também. Tem uma hora que você quer seguir carreira solo, quase como romper com a banda.
Ainda assiste o programa?
Não assisto o CQC hoje. Não assistia nem quando fazia, porque estava lá. E não é uma questão de não gostar. Mantenho um relacionamento com todo mundo que está ali. Não tem ninguém que esteja ali que eu não olhe na cara. Não é nem por distância. É segunda-feira à noite, estou com meu filho, fazendo outras coisas.
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O que mudou na sua vida desde a saída do CQC?
A saída do dia-a-dia da TV fez com que tivesse mais tempo para me dedicar em casa [Rafinha é casado há nove anos com Junia e tem o filho Tom, de 3 anos]. Hoje com a produtora controlo melhor meu tempo, me ajudando em diversas áreas da minha vida. A TV consome muito, de estar disponível o tempo todo. Controlo melhor minha agenda. Minha vida ficou mais tranquila após a saída do dia a dia do programa de TV. A televisão é um veículo que gosto muito, mas esse distanciamento me ajudou a ter mais liberdade e escolha dos meus programas.
TV aberta, a cabo ou internet. O que você prefere?
A gente esta vivendo um período de transição muito grande. O povão começa a chegar na TV a cabo. Há três anos você tinha o Multishow com programas sofisticados. Hoje tem programas com o Sérgio Mallandro. As coisas estão mudando muito. A TV a cabo está se popularizando. O que não é um processo ruim, muito pelo contrário. Acho que não é a hora de fazer uma análise desses diferentes veículos. Nós, como artistas, precisamos entender as diferenças entre cada um deles. Hoje produzo mais conteúdo para a internet. Talvez, algo autoral seja para mim um lugar que tenha mais controle do conteúdo. O que não impede que eu apresente um programa na TV aberta. Em relação ao conteúdo, quando sento para escrever algo, fico entre a internet e a TV a cabo. Assim, você não invade a casa de ninguém. A TV aberta tem uma coisa de respeito. Para entrar na casa das pessoas, você precisa tirar o sapato. Mas estou aprendendo, sou muito novo ainda. Tive uma exposição no Brasil inteiro em 2008, quando comecei a fazer o CQC. Em pouco tempo aconteceu duas vidas! Foram seis anos muito intensos. Vai, sai, volta, vai para um lugar dá certo, vai para outro não dá, vai para a TV a cabo e dá audiência, volta para a Internet...
Quem você destacaria como sendo fundamental para sua carreira no stand up?
Quem mais me ajudou foi o Marcelo Mansfield. Só estou onde estou hoje por causa desse cara. Minha dívida de gratidão com o Marcelo é eterna. Achava que o palco não tinha nada a ver comigo. Não sou ator, faço comédia. Mas ele me incentivou a subir no palco e falar as minhas coisas. Ia no show dele e fazia a apresentação. Tenho um bar e uma carreira por causa disso. E tem muita coisa pra fazer ainda. Ele é meu padrinho. Pensamos de uma forma muito parecida, nos ajudamos muito. A Marcela Leal também é minha amigona. Estamos sempre juntos pensando em coisas novas.
Como você avalia sua passagem pela RedeTV à frente do Saturday Night Live?
Talvez não tivesse preparado, com um pouco de inexperiência da minha para assumir o cargo de produtor executivo de um programa de TV aberta. Fui muito radical em não querer certas coisas, não querer certos formatos de publicidade. Então, complicou bastante. Precisa de uma pessoa mais maleável para dirigir TV aberta. Sou meio cabeça dura ainda. Na RedeTV foi legal porque aprendi a ouvir outras pessoas. Também estava saindo de um programa do qual basicamente estava saindo porque não tinha controle. Tanto que em certos momentos não podia falar certas coisas. Para mim era a maior ofensa. 'Como que você fala que não posso? Você está louco?'. Quando entrei no outro, entrei muito com o pé na porta. Talvez tenha prejudicado um pouco. Nunca tinha pensado nisso, mas é um pouco isso, né? Estava muito armado eu acho. E isso atrapalha, é claro. Lá na emissora foi total nepotismo. Levei quem era meu brother. A RedeTV foi uma oportunidade que tive que não pude desperdiçar a chance de contrar dez caras. Todos os meus amigos que queriam fazer TV, contratei. Se vai ou não dar certo, não importa. Só o fato de ter tentado com gente que realmente era próxima. Era mais a minha turma do que o próprio CQC. Foi uma oportunidade muito legal que não vou me arrepender de jeito nenhum. Foi uma jornada dura, porque tínhamos uma exigência, principalmente por parte da imprensa, que era com a questão da audiência.
Já se arrependeu de alguma coisa?
Não sei te exemplificar, mas já me arrependi como qualquer pessoa e pedi desculpas na TV. Não tem o menor problema. Só achava ridículo pedir desculpas por falar coisas que não achava que fosse errado. Quando errar, e erro, e vou continuar errando, tomara que continue errando, vou pedir desculpas sim. Sou um cara que estou exposto e é normal que essas coisas aconteçam, principalmente em programa ao vivo. Mas se não errei, não vai ser a cerveja, ou qualquer outro cara que está pagando o programa que vai fazer eu pedir desculpas. É uma questão de maleabilidade. Aprendi um pouco também entender o lugar das coisas. Entender as diferenças dos veículos.